Poesia

Às vezes olho por uma fresta
E, à mostra de mim
Permaneço escondida.
Me desnudo inflamada.
E cubro de volta a tez alva.

Meu universo é composto de nada

Minhas vísceras são ocas e finas
Minha pele definha a cada raiar de um novo dia
Meus olhos cansam, derretem em sonhos lúdicos e assombrosos
Feridas se abrem constantemente
Incansavelmente
Profundamente
Passam pela minha carne e não encontram barreiras
Pois aquilo que é sagrado não habita em mim
O nada substituiu a alma
A cara da bom dia e rui
O caráter acaba antes do bom
O bom foi escrito em linhas maquiavélicas

Constatações de uma sóbria

Só mais um copo, nem meio cheio,
nem meio vazio, mas transbordando!
Fervilha nas entranhas do meu ser,
Aviva o amargo sentido
Da vida que antes não possuía
Um para viver
Vai extasiando...
Atordoando...
Queimando...
Sem se preocupar com o término que fará acontecer.
Então o ponto H se desvanece,
Torna-se forte, sólido
E, por um milésimo de tempo alcançado,
Meus sentidos ficam anestesiados
Porém tudo tem um ciclo:
A chance, a alforria e a ressaca.
E tudo se esvai novamente,
Deixa com um baque,
Incapacita-me nos becos das ruas
E me deixa à mercê.
Apenas o outro dia revelará
Se continuarei ou não a viver,
E é escolhendo viver
Que outra dose preenche,
O vazio do meu ser.

Meu aniversário

Tive três bolos
Mais que três amigos
Três desejos

O primeiro não notei
Cortei-o rápido
Gravaram vídeo e me mostraram
Estava sorrindo e não me lembro

O segundo foi no mesmo dia
Eu estava cheia
Sem surpresa cortei-o rápido
Gravaram vídeo e me mostraram
Estava sorrindo e não me lembro

O terceiro foi no outro dia
Havia o pedido com falsidade
Agora finjo com naturalidade
Sem surpresa cortei-o rápido
Gravaram vídeo e me mostraram
Estava sorrindo e não me lembro

E os desejos?
Acho que esqueci de pensar.

Amor à antiga dói

Quem diria que esta carcaça seca,
Acumulada debaixo daquele pé de caju
Que dá doces frutos nas tardes de novembro,
Resultado do canto alucinante destas cigarras em frequências absurdas
Guardaria ainda em suas paredes finas
Os resquícios da primavera findada à sofrimento
Ai se soubesse! Não cantaria com tanta veemência...
Guardaria um pouquinho pra cada dia
Gastaria cada minutinho nesta árvore
Definharia só aos poucos
Perdendo as notas em profunda tristeza
Pois desde cedo saberia
O destino que Osíris a comporia.
Desse modo apreciaria melhor o oferecido:
O vento com a resposta.
E, naquele cajueiro já enegrecendo,
Se guardaria sofrendo,
À espera da queda impetuosa.
No entanto, na escola, aprendi do antigo Sócrates
O valor do não saber.
E, assim, me contrario, como de costume.
Pois não há nada como não conhecer a queda
Que o destino a nós pune.


Psicólogo da arte

Como e x p r e s s a r
se tudo fica agarrado no peito
se o sangue corre em círculos
nao acha foz

como e x p r e s s a r
se as ideias nascem e morrem
no campo metafísico
não descem aos sentidos

como e x p r e s s a r
se elas são ansiedade
giram, correm, batem
feito moleculas no calor

se aprendi a guardar tudo
se nao sou artista nem faço terapia
como.


se nem reviso meus textos.

Comentários

Postagens mais visitadas